Uma prática humanista que tem como objetivo salvar vidas, além de ajudar os que necessitam, e doar saúde, o ato de doar sangue ainda cria grande polêmica em torno da religião Testemunha de Jeová, uma denominação cristã, que atua fortemente em todo o Brasil. Enquanto para a maioria das religiões, o ato de doar sangue demonstra imensa solidariedade, dentro da denominação o entendimento é que tanto o velho quanto o novo testamento ordenam aos fieis se absterem do sangue recebido, ou da ação de doá-lo.
De acordo com o jornalista Rodrigo Oliveira, que congrega a religião há mais de cinco anos, a pessoa que ir de encontro ao ensinamento bíblico (de acordo com tal interpretação), certamente “responderá pelo seu ato”. Se ela fizer parte de alguma cúpula, fica inapta a assumir cargos de responsabilidade na congregação. Para Rodrigo, a Bíblia é clara e diz que “devemos evitar o uso do sangue”. Ele cita passagens do livro, Gênesis 9:4; Levítico 17:10; Deuteronômio 12:23; que dizem o seguinte consecutivamente: “4 Somente a carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer. 5 E, além disso, exigirei de volta vosso sangue das vossas almas. Da mão de cada criatura vivente o exigirei de volta; e da mão do homem, da mão de cada um que é seu irmão exigirei de volta a alma do homem. 6 Quem derramar o sangue do homem, pelo homem será derramado o seu próprio sangue, pois à imagem de Deus fez ele o homem.”, “10 E qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que comer algum sangue, contra aquela alma porei a minha face, e a extirparei do seu povo”, “23 Somente esforça-te para que não comas o sangue; pois o sangue é vida; pelo que não comerás a vida com a carne.” Questionado sobre a possibilidade de precisar da transfusão em um possível caso clínico, Rodrigo respondeu com firmeza: “Eu obedeço o que a Bíblia ensina. Pessoalmente, me negaria, porque abster-se de sangue é bíblico”.
Na vivência diária da profissão, o fisioterapeuta plantonista Cristian Soares, explica de que maneira a polêmica questão funciona no âmbito clínico de UTI hospitalar: “O embate é grande: entre a fé e a ciência, entre o papel do Estado e a fé do cidadão, e o dilema moral dos profissionais da saúde. Existem dois direitos fundamentais do homem, que neste caso, são conflitantes: a vida e a liberdade de escolha”. “Para o hospital, em primeiro lugar está a responsabilidade de salvar a vida do paciente. Uma vez, um paciente que era testemunha de Jeová se recusou a receber a doação, tivemos que entrar com uma liminar na Justiça, para que a transfusão fosse feita. Infelizmente 11 dias depois, ele faleceu”, acrescentou. Fonte: Varela Notícias.