Mãe e padrasto são indiciados por tortura e morte de menina de três anos; veja detalhes

Recôncavo News
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Investigação da Polícia Civil vê indícios de que a criança sofreu reiterados ataques durante dois anos.

A Polícia Civil indiciou a mãe e o padrasto da menina Mirella Dias Franco, que morreu aos três anos, em Alvorada, pelo crime de tortura-castigo com resultado morte.

Lilian Dias da Silva, 24, e Anderson Borba Carvalho Junior, 27, teriam cometido uma série de agressões e atos violentos contra a criança ao longo dos últimos dois anos, quando a vítima passou a morar com o padrasto, de acordo com a investigação. Os dois estão presos desde 11 de junho.


O conselheiro tutelar Leandro da Silva Brandão, que teria mentido em depoimento durante a investigação, também foi indiciado por falso testemunho e falsificação de documento público. Ele está afastado das funções no conselho. O inquérito foi concluído nesta quarta-feira (22) e o resultado foi apresentado em coletiva de imprensa no Palácio da Polícia, em Porto Alegre, nesta manhã.


De acordo com a investigação, Mirella foi vítima de violência contínua por parte do casal, presenciada por diferentes testemunhas.

Depoimentos colhidos e prontuários médicos da menina indicam que ela sofreu reiteradas agressões durante os dois anos em que conviveu com o padrasto. A criança estava sempre com medo, chorando ou machucada, segundo testemunhas.


A falta de denúncias sobre as agressões fez com que elas seguissem até a criança não resistir mais e morrer no dia 31 de maio, quando foi levada para a Unidade Básica de Saúde Jardim Aparecida, em Alvorada. 

A equipe do local afirmou que tentou reanimar a criança, mas que ela já estava sem vida quando chegou. Os servidores acionaram a polícia e o Conselho Tutelar após verificarem hematomas no corpo da vítima.


Conforme o laudo pericial do corpo da menina, a morte de Mirella teve como causa hemorragia abdominal provocada por instrumento contundente. 

Segundo a delegada responsável pela investigação, Jeiselaure Rocha de Souza, não há como saber quando ocorreu e qual das agressões causou a morte dela, porque a violência era frequente.

No dia em que morreu, a menina teria recebido agressões e chutes do padrasto, segundo a delegada. Um dia antes, chegou a ir ao hospital porque estava com dores.


É possível que a agressão que resultou na morte tenha ocorrido um ou dois dias antes e a hemorragia começado de forma mais leve, evoluindo depois.

O laudo é conclusivo e chocante. Mirella morreu devido a uma hemorragia muito significativa, teve laceração maciça das vísceras, com o rompimento do fígado e do baço. Além de vários outros hematomas e fraturas por todo o corpo. Tudo foi se prolongando ao longo do tempo — complementa.


Segundo a polícia, as agressões eram feitas tanto pelo padrasto quanto pela mãe da menina.


Jeiselaure conta que a rotina da menina era repleta de violência. As agressões eram denunciadas pelas marcas no corpo da criança, em que foram constatados diferentes machucados e ferimentos. Cerca de 30 pessoas foram ouvidas pela polícia ao longo da apuração. Algumas delas afirmaram ter visto as agressões. Apesar disso, nenhuma delas fez nenhum tipo de denúncia sobre o caso.


Há amigos dessa mãe que viram a menina amarrada. Pessoas que viram ela com olho roxo, machucada. A menina tinha queimaduras pelo corpo e não foi sequer levada para atendimento médico. 

A grande pergunta que fazemos é por que não tivemos denúncias. Nós perguntamos a essas pessoas. 

A maioria disse que, quando questionava o casal, ouviam que os machucados tinham ocorrido em razão de uma queda, porque a menina era ativa, que a irmã empurrou. Talvez essas pessoas tivessem receio de se indispor, não quisessem acreditar que aquilo aconteceu. Há um somatório de omissões.


No começo das investigações, o casal disse à polícia que as lesões eram causadas por quedas durante brincadeiras. Dias depois, no momento da prisão, os dois permaneceram em silêncio.


Dois anos, uma denúncia

Apesar das repetidas agressões, uma única denúncia às autoridades foi encontrada pela polícia. Em 10 de janeiro, o Hospital Cristo Redentor informou ao Conselho Tutelar de Alvorada sobre suspeitas de que a menina sofria maus-tratos. Na ocasião, a criança havia sido levada pelo avô materno a uma consulta, pois estava com fraturas.


O alerta foi encaminhado ao conselheiro Leandro da Silva Brandão. Ao depor na polícia, ele afirmou que, em fevereiro, esteve no endereço da família e tentou contato telefônico, sem sucesso. 

Alegou ainda que registrou as diligências em uma certidão e que não retornou ao local em razão de excesso de trabalho. Após o depoimento, no entanto, a polícia recebeu denúncias de que o homem estaria mentindo.


As equipes fizeram então diligências junto ao Conselho Tutelar, analisando planilhas de rotas dos veículos do órgão e ouvindo colegas, motoristas e demais funcionários.

Conforme a investigação, Mirella só ganhou uma pasta de registro no órgão depois de morrer. E, nesta pasta, o conselheiro inseriu a certidão com a declaração, possivelmente falsa, de que havia tentado contato com a família em fevereiro, após a denúncia do Hospital Cristo Redentor.


Segundo o delegado Juliano Ferreira, da 1ª Delegacia Regional Metropolitana, "não há dúvidas" de que o homem mentiu em depoimento. O delegado explica que o indiciamento de Leandro não ocorre em razão de omissão, mas da conduta dele durante o inquérito:


Não foi apenas o deixar de agir por parte do conselheiro. Essa responsabilização criminal ocorre porque ele apresentou certidões e relatórios falsos, afirma que fez ações que não foram realizadas. Ele afirma que foi lá com seu veículo próprio, mas os funcionários são claros ao dizer que conselheiros nunca fazem essas diligências sozinhos, que não houve acompanhamento desse caso por parte dele — explicou Ferreira.


Para o delegado, houve falha geral da rede que deveria proteger Mirella:

É preciso reconhecer que houve falha em todo o sistema. A menina foi atendida em outras oportunidades, outros hospitais, postos de saúde. Essa comunicação das agressões, seja pela equipe médica, por vizinhos, parentes, já deveria ter chegado até a polícia, mas não chegou. Com certeza, a rede falhou.


A polícia acredita que as outras duas crianças que viviam na casa não eram vítimas de violência assim como Mirella. Na residência, moravam também uma irmã da vítima, de 8 anos, e uma filha do homem, de 3. A irmã de Mirella, filha de Lilian, deve passar por avaliação psicológica.



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