Estava na cara que mais dia, menos dia, isso iria acontecer. E só poderia ser no Rio das milícias, de Witzel e Crivella.
O general da Saúde está enrolando tanto para oferecer vacinas à população, que camelôs de Madureira, na zona norte da cidade, já estão vendendo o produto falsificado por módicos R$ 50, com direito a certificado e tudo. Se quiser receber a aplicação na hora, o freguês paga mais R$ 10.
"Vale o alerta: não comprem esse tipo de produto. Essa vacina sim pode transformar a pessoa em um jacaré", escreveu o jornalista Felipe Lucena no site diáriodoRio.com, depois que a novidade começou a circular domingo nas redes sociais. É uma alusão às declarações do presidente sobre os perigos da vacina.
A embalagem da vacina "alternativa" procura imitar a da Coronavac, a vacina chinesa produzida em parceria com o Instituto Butantan, que começará a imunizar a população de São Paulo no dia 25 de janeiro.
Os camelôs, sempre atentos às últimas novidades, chegaram antes do general Pazuello e contam com a divulgação gratuita dos tuiteiros.
"Já estão vendendo vacina em Madureira, com direito a certificado (no camelô). O seu medo acaba em Madureira, só depende de você, kkkkkk", tuitou Giovanni Sandri.
Favela Caiu na Rede RJ anuncia "vacina para covid-19 de Madureira por apenas 50,00".
No seu Facebook, Jones MFjay não queria acreditar no que viu:
"Tirei e recoloquei óculos de leitura por 5x, pessoal! No meu país, Madureira, os camelôs já estão vendendo a vacina para combater a Covid-19. Um galo (nota de 50 reais) e se quiser já sair com ela aplicada, paga 60 merréis! Nasa é o c(*), porra. Nós somos os inestudáveis".
Em seguida, Fábio Tarta pergunta:
"Lá na passarela do Império, né meu padrinho?"
"Isso aí", responde Jones.
Pode-se imaginar o que vai acontecer no mercado paralelo quando as vacinas verdadeiras finalmente aparecerem, e não forem suficientes para todos.
Depois de ser entregue aos militares, ficamos sabendo hoje que o Ministério da Saúde também recebeu o reforço de agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), sem nenhuma formação técnica.
Reportagem de Igor Mello, do UOL, no Rio, revelou que Jair Bolsonaro nomeou em agosto Myron Moraes Pires, agente da Abin, para comandar um dos órgãos do ministério diretamente responsáveis pela compra de vacinas.
Fontes ouvidas pelo repórter relataram que a nomeação do agente da Abin gerou um "clima de terror" entre os funcionários do ministério.
Com os camelôs, de um lado, e agentes da Abin, de outro, essa guerra das vacinas deflagrada entre Bolsonaro e Doria promete pegar fogo nas ruas.
Texto do Jornalista Ricardo kotscho Colunista do site UOL.