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O mercado de alimentação
no Brasil vem passando por uma significativa mudança de cenário, especialmente
por causa da implementação de aplicativos de delivery. Apps como o Rappi,
por exemplo, causaram um impacto significativo em praticamente todos os vetores
desse setor.
A
influência dos aplicativos fica especialmente evidente em períodos de pandemia
do novo coronavírus. Além de ser a única ferramenta para os restaurantes
continuarem vendendo, eles são também a grande esperança das pessoas de
quarentena por um pouco de “vida normal” nessa crise.
Segundo
a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), o setor de delivery correspondeu a R$11 bilhões no ano passado.
A expectativa para 2020 é de um valor muito mais alto do que isso.
Especialmente porque só o Rappi já registrou um aumento de 30% no seu número de pedidos desde o início da
pandemia.
Na
prática, as mudanças propostas pelos aplicativos afetam os 4 elementos
envolvidos na equação. São eles:
No
passado, ter uma opção de delivery em um restaurante significava ter uma
estrutura cara para viabilizar esse negócio. Era necessário ter uma linha
telefônica, no mínimo uma atendente disponível para registrar os pedidos e um
entregador, normalmente mais.
Dependendo
do volume de vendas, era necessário ter uma equipe ampla para poder lidar com
todos os pedidos. O negócio dava lucro, sim, mas era também caro e inacessível
para muitos restaurantes e bares.
Do
ponto de vista dos restaurantes, os aplicativos são uma boa notícia. Eles
permitem que mesmo os menores negócios possam trabalhar com delivery sem
precisar investir um centavo nisso. Afinal, toda a infraestrutura já está
pronta.
O
aplicativo vem com um público de milhões de pessoas e um exército de
entregadores para agilizar a entrega dos pratos. Para o restaurante, isso tudo
tem o custo mínimo de uma porcentagem dos pratos vendidos.
Uma
das maneiras como isso afeta o setor é pelo aparecimento das dark kitchens, restaurantes que
operam apenas com uma cozinha, sem espaço para receber os clientes. Esses
estabelecimentos só vendem via delivery, sem atender ninguém fisicamente.
No
momento, eles ainda são minoria. Mas a crise do novo coronavírus mostrou que
vários negócios podem operar assim e ainda ter lucro. Isso há de ter um impacto
no mercado.
A
própria comida tem passado por mudanças por causa dos aplicativos de delivery.
Isso porque os algoritmos dos apps ditam tendências que afetam os consumidores,
criam nichos e adicionam novos hábitos na nossa rotina alimentar.
Recentemente,
a grande moda dos apps era o poke, um prato havaiano que consiste em uma tigela
de peixe cru, vegetais, arroz e até mesmo frutas.
Além
dele, outros pratos desconhecidos do grande público ganharam espaço na
alimentação dos brasileiros graças aos “descobrimentos” feitos em aplicativos.
Até
mesmo receitas já tradicionais ganharam nova roupagem nos aplicativos, seja
pela aplicação de novos ingredientes, seja pela necessidade de mudar alguma
coisa para se destacar.
Aliás,
por falar nisso, os consumidores estão em um constante processo de mudança no
setor alimentício, percebam ou não o que está acontecendo.
A
grande prova disso é que, antigamente, o delivery era algo apenas para os fins
de semana e majoritariamente reservado para pizzas. Era muito raro pedir
delivery em outros dias e para outros tipos de comidas.
No
entanto, com a presença dos aplicativos de delivery, uma série enorme de opções
começou a surgir, fazendo com que as pessoas peçam por comida mais
frequentemente.
Hoje
em dia, existem empresas que vendem apenas pratos feitos pelos apps. Já outros
trabalham com dietas fit para os seus consumidores e precisam dos aplicativos
para entregar os ingredientes semanalmente ou pratos diariamente.
Tudo
isso tornou o consumidor mais focado nos apps para lidar com a sua alimentação.
Até mesmo momentos de intimidade e romance passaram a ser pautados pelos
aplicativos: em vez de sair para ir ao cinema e comer fora, um encontro
romântico hoje pode envolver ficar em casa, pedir comida e ver algo na Netflix.
Por
fim, toda essa roda do negócio só funciona com a presença dos entregadores.
Atualmente, só a grande São Paulo conta com aproximadamente 280 mil
profissionais do tipo, o que é um número considerável.
São
eles que tiram o sustento dos serviços de delivery. Ao contrário de ser
motorista de aplicativo, muitos deles não conseguem a formalização como MEI, o
que aumenta os índices de informalidade no mercado de trabalho no país.
Entretanto,
os aplicativos também apresentam uma oportunidade para essas pessoas terem
maior autonomia no seu mercado de trabalho, conseguindo a renda necessária para
prover para suas famílias.
A
consequência indireta disso é que até mesmo o setor automotivo e de auto peças
se beneficia disso, já que é necessário prover assistência técnica constante
para esses profissionais.
Com
tudo isso, é possível constatar que o mercado alimentício no Brasil, hoje, não
tem nada a ver com o mesmo mercado há 5 anos. Quem sabe o que acontecerá nos
próximos 5?