Talvez você se lembre da imagem de uma mancha escura no mar do Rio Vermelho, em março do ano passado. Na ocasião, um acidente com um ônibus provocou a interrupção de energia na Estação de Tratamento de Água do Lucaia e, em dois dias, a Embasa acabou despejando 756 milhões de litros de esgoto sem tratamento na praia. O odor pode não incomodar mais, mas o problema não deixou de existir. Segundo a Polícia Federal (PF), a Embasa vem lançando esgoto sem tratamento – ou bruto, como é o termo técnico – no mar há mais de dois anos.
“A gente foi instaurar o inquérito para averiguar o que tinha acontecido naquela época, mas percebemos que o caso era mais grave”, afirmou o delegado Fernando Berbert, responsável pela Operação Águas Limpas, deflagrada nesta terça-feira (14), justamente para investigar se a empresa vem cometendo crime ambiental. Foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão – três em Salvador, na sede da Embasa, e outros dois no Rio de Janeiro e em São Paulo – para localizar documentos relativos à investigação. Os mandados, deferidos pela 17ª Vara Federal, foram solicitados depois que a PF requisitou os documentos e a Embasa negou. De acordo com o delegado, só no ano passado, foram dois pedidos negados. O quadro em março de 2016 indicava que, devido à falta de energia, o esgoto estava sendo despejado diretamente na praia do Rio Vermelho, sem passar pelo emissário submarino, que tem 2,35 quilômetros de extensão.
O emissário, que é chamado também de Sistema de Disposição Oceânica (SDO), é quem leva o esgoto – já tratado – para dispersão em águas oceânicas, a 27 metros de profundidade. Antes disso, o esgoto passa justamente pela tal estação de tratamento de água. Só que, de acordo com a PF, desde outubro de 2015, esse esgoto não é tratado e continua assim. Dessa forma, tudo que tem caído no mar – mesmo que a mais de dois quilômetros de extensão da costa – é exatamente o esgoto doméstico. No caso do emissário do Rio Vermelho, mais especificamente de 60% da cidade.
"A equipe da perícia mostrou que esse sistema estava inoperante meses antes de isso acontecer”, diz o delegado Berbert. Segundo a perícia da Polícia Federal, a bomba que deveria fazer a elevação do efluente, permitindo o escoamento do esgoto estava inoperante. Ou seja: com essa bomba sem funcionar, o esgoto não passa pelos processos obrigatórios de tratamento, como o gradeamento, peneiramento e caixa de areia. Considerando que o emissário bombeia 8,3 mil litros por segundo, de outubro de 2015 para cá, significa dizer que a o órgão de saneamento despejou mais de 330 bilhões de litros de esgoto no oceano. Com informações do Correio 24hs.