Os donos de empresas de ônibus de Salvador encaminharam pedido de "realinhamento tarifário" para a Prefeitura de Salvador nesta segunda-feira (28). A informação foi anunciada pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (Setps) no início da tarde. O motivo alegado é o "impacto resultante do reajuste salarial e de benefícios concedidos pela Justiça do Trabalho" aos rodoviários, que encerraram a greve no sábado (26) após quatro dias de movimento.
Segundo o Seteps, ao cumprir o reajuste de 7,5% determinado pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT-5) e o aumento de 4,09% no tickets de refeição, além dos outros benefícios, o passageiro passa a custar R$ 3,15, valor tarifário pleiteado pelo empresariado. A Seteps alega que atual da tarifa, de R$ 2,50, está defasada há seis meses em relação ao custo real de cada passageiro, estimada em R$ 2,96 até a decisão. A Setps afirma que o último pedido de aumento ocorreu em 2011 e foi negado pela gestão municipal.
O TRT-5 determinou também o retorno do pagamento do quinquênio, benefício pago aos àqueles que têm mais de cinco anos de atividade, o que, segundo o Setps, compromete R$ 700 mil por mês. O custo é referente ao pagamento do benefício a cerca de 18 mil trabalhadores, número que abrange 80% da categoria, informa a entidade. Na soma de reajustes e benefícios, o setor prevê "impacto" de R$ 5,9 milhões mensais. Segundo a categoria dos empresários, a mão-de-obra que "pesava" 46,7% aumenta agora para 49,7%.
"Temos, teoricamente, outras saídas. A primeira é o subsídio público, previsto na legislação. A outra é o repasse direto para o usuário. A prefeitura decide se subsidia ou se repassa o preço para o público. Previmos isso no ano passado, não fomos atendidos e estamos apenas reiteirando", diz o presidente do Setps, Horácio Brasil. Ele explica que no valor de R$ 3,15 solicitado é embutido, inclusive, gratuidades para idosos e deficientes. "O valor se refere até ao custo dos gratuitos. A prefeitura não subsidia os gratuitos, ninguém arca, a não ser os passageiros. É como se fosse um grande condomínio e um terço não pagasse o valor mensal", aponta.
A enfermeira Adriana Rodrigues não utiliza ônibus, mas custeia o transporte de sua empregada doméstica. "O custo passa a ser muito alto. Com gasto de R$6,30 por dia, as pessoas não vão ter condições de usar o transporte, isso se só pegar dois coletivos por dia. É um absurdo, não está de acordo com os salários que as pessoas ganham”, opina. A previsão de aumento também não é bem vista para o cozinheiro Rodrigo Santos. "Acho péssimo, pego dois ônibus por dia para trabalhar e, no lazer, chega a três. Quem vai pagar pelo reajuste dos rodoviários somos nós? Um transporte deficiente, sem segurança e higiene adequados?”, questiona.
O estudante de jornalismo Igor Dantas avalia que a medida não pode beneficiar empresários e prejudicar a população. "Os ônibus e pontos estão sempre lotados, desconfortáveis. A grande parte da população que pega ônibus não tem condição de pagar mais de R$3 por passagem, considero esse valor exorbitante, não condiz com a realidade financeira da população”, acredita.
Para Horácio Brasil, a baixa qualidade no serviço oferecido à população é reflexo da falta de infraestrutura municipal. Além disso, aponta o baixo número de vias na cidade. "É impossível, não se pode dar um bom serviço com o nível de engarrafamento que se tem. Não temos como prestar um sistema eficiente e decente se os veículos passam parte do dia em engarrafamentos", avalia. A Secretaria Municipal de Transportes e Infra-Estrutura (Setin) afirma que a pasta tem ciência do pedido, mas ainda está muito cedo para se manifestar sobre o assunto. Fonte: G1 Bahia.